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sexta-feira, setembro 30, 2005

Inconveniências

Conforme alguns já perceberam, eu tenho um "karma" pra gente sem noção.
Neste ano, no maldito cursinho, conheci uma garota que veio do interior e sentia-se muito só. Como boa ação não arranca pedaço, eu puxava assunto com ela, era simpática e ouvia todas as lamúrias de sua nova vida urbana.
Contudo, com o passar do tempo, percebi que a menina era chaaaaaaaaaata de doer. Ela é dessas religiosas que metem Deus em tudo, tudo é pecado, o Culto é uma coisa felomenal e o pastor é uma coisa sagrada. (depois do vizinho pastor que comprou uma caminhonete que não cabe na garagem e põe a culpa NA NOSSA GARAGEM, eu passei a desconfiar desse povo seriamente).Além disso,ela faz perguntas no finalzinho da aula(odeio! ODÍO DE COM FORÇA!)e é competitiva.
Notando tamanho desvio de caráter, afastei-me na surdina. Todavia, já acostumada a me ter por perto, a criatura simplesmente NÃO LARGAVA DO MEU PÉ. No início, eu até fui bem-educada..Mas paciência tem limite.
Vou resumir um pouco os diálogos:.
- Você acredita em Deus? Você não me parece do tipo religioso.
- Cada um na sua religião.
- Ah, mas você deveria se entregar, se libertar..
- Não me venha com papo de conversão porque isso não cola comigo.

Ela não se contentou.
- Você já fez essa questão?
- Faço depois.
- Faça logo, senão você esquece.
- Depois, agora não estou com cabeça.
- Ah, eu nunca deixo acumular matéria, senão nunca vou passar no vestibular.
- Bom pra você.


Foi então que, um dia, a bomba explodiu.


Na biblioteca,ela chegou e sentou-se do meu lado.
- Tá estudando o quê?
- Zoologia.

Ela arregalou os olhos:
- NOSSA, você ainda está ai!!?!?! Eu ja terminei faz tempo! Desse jeito, você não vai terminar a matéria nunca!
- É que eu sou é DOIDA, entendeu? Eu estudo as matérias DUAS VEZES, você não sabia?

(ela arregalou ainda mais os olhos - acreditando, acreditem se quiser.)
- Você tem falado com o coordenador?
- Depois daquele dia em que ele gritou comigo, néver more.
- Ah, ele não gritou.
- Sério, ele não gritou?

(lancei-lhe o olhar que alguns daqui já conhecem muito bem)
- Ah, ele só ralhou..Foi pro seu bem..Você ia perder aula, era só se levantar e ir assistir a aula.
- Eu realmente não preciso que um coordenador qualquer venha me dizer o que tenho de estudar ou não. Cada um sabe muito bem do que precisa,e eu sei do que preciso.
- Ah, mas ele deve estar estressado.. Ser coordenador de cursinho é cansativo..

Observei-lhe um pouco. Ela estava duelando verbalmente comigo, e eu sabia muito bem que ela só o estava defendendo porque vive adulando-o para ganhar bolsa.
- Eu só vou lhe falar isso uma vez, então preste atenção. No início deste ano, minha mãe teve um derrame na minha frente e passou uma semana na UTI, corrigiram errado minha prova de química no vestibular e eu tenho de estudar TUDO DE NOVO e eu só não me suicidei porque ainda tenho o mínimo de coerência mental. Mesmo com tudo isso, eu NUNCA - e eu estou dizendo NUNCA - descontei minha infelicidade em ningúem nem quis que alguém sofresse comigo porque isso é pequeno demais e medíocre demais. E, na MINHA ética, quem faz isso não merece o MENOR respeito. Você me entendeu ou quer que eu desenhe?
Ela engoliu seco, e se não engolisse eu mesma trataria de enfiar-lhe goela abaixo.
Depois disso, felizmente, ela se afastou um pouco. Fiquei meio aliviada, meio arrependida, porque reconheço que peguei pesado na resposta.

Mas da mão elas querem o braço, e, conforme o post abaixo já disse, eu já estou sem dedos.

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