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domingo, maio 27, 2007

Tanatologia

Recentemente, recebi um mail deveras perturbante de uma leitora/leitor que me relatava estar terrivelmente apaixonada(o) por alguém e não ter reciprocidade nesse sentimento. Essa pessoa , no final do texto, pediu-me desculpas por sequer me conhecer pessoalmente e, mesmo assim, entregar-me sua vida, e também me pediu uma opinião sobre o assunto. Primeiro, quero deixar claro à entidade apaixonada que já tive intromissões bem maiores(ou piores) do que um singelo mail em busca de consolo, e elas nunca me foram um problema (quer dizer, alguns até abusaram algumas vezes hehe)Como decepções amorosas são um tema universal, decidi compartilhar tal opinião com o que sobrou das criaturas que comentam(ou que comentavam, essas malditas!)desse blog.
Vocês sabem o que é Tanatologia? É a ciência que estuda a morte. A “morte” não necessariamente é a ausência física de alguém que amamos. A sensação de morte pode advir quando determinada fase de nossa vida finda e não nos sentimos prontos para a próxima fase(daí a terrível saudade de certos lugares e pessoas que, às vezes, sufoca nossos pensamentos), a mesma sensação de morte pode ocorrer quando rompemos uma amizade de longo tempo(e meio que não entendemos como algo que antes era tão certo tornou-se tão errado) e a terrível sensação de morte pode acontecer, também, quando uma história amorosa acaba e não conseguimos aceitar o seu fim
Infelizmente, não podemos mudar o que já aconteceu. Essa frase parece óbvia, em princípio, mas é uma verdade que alguns teimam em aceitar e vivem na suposição do “e se..”. “E se” não existe. Vou colocar um trecho do Sandman(pra variar)que se encaixa perfeitamente no assunto:
Essa conversa ocorre pouco após Eurydice ter morrido e Orpheus, obcecado por trazê-la de volta à vida, decide ir conversar com o pai(Sandman):

- Você deveria ter ido ao funeral dela.
- Por quê?
- Para dizer adeus.
- Eu ainda não disse adeus a Eurydice.
- Deveria. Você é mortal. Esta é a maneira dos mortais. Você vai ao funeral e se despede da morta. Você se enluta.E então continua com sua vida. Às vezes, a ausência dela o atingirá como um soco no peito, e você irá chorar. Mas isso acontecerá cada vez menos, com o passar do tempo. Ela está morta. Você está vivo. Viva.


E, complementando,eis um pensamento de Clarice Lispector:

“... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. “

Então.
Vê? Nós todos precisamos VIVER, apesar de. Aquela pessoa que você amou no passado, hoje, já não existe mais. Morreu. Chore a perda dela, enlute-se, supere-a e viva sua vida. O que a sombra que restou dela precisa aprender não convém mais a você. Da mesma forma que você deu com a cara na parede, ela também irá vacilar pelos percalços da existência e também aprenderá muita coisa. E você conhecerá novos lugares, novos amigos, novos amores. Permita-se isso. Viver chorando de saudades de um futuro que poderia ter acontecido não vai te levar a lugar nenhum.

:::Para mim, foi preciso muita testa na parede pra aprender isso..Mas aprendi. E foi válido.:::