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quarta-feira, novembro 18, 2009

Dizem que os três pilares necessários para a existência da paixão são os seguintes: admiração, esperança e um pouco de insegurança.

Dirigir a palavra a alguém que já fora o instrumento do seu afeto num ambiente de trabalho e essa pessoa te olhar nos olhos e virar o rosto como se fingisse que você não existisse, sequer respeitando a presença de uma autoridade à frente de vocês, fez-me agradecer a Deus por me dar um sinal para seguir em frente conforme eu havia pedido. Findaram-se a admiração, a esperança e a insegurança de ter feito a escolha errada.

Educação, pessoas. O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele. (Kant)

E no final, eu amei o que eu amaria, não o que foi ou o que é..

segunda-feira, novembro 16, 2009

“Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.


Eles pensavam que, porque queriam, era possível. Defeitos, todos os têm, não é mesmo? Diferenças podem acrescentar, não podem? Então, tentaram. No início, tudo era motivo de sorriso. E daí se ele gostava de forró e ela de Pink Floyd? “Pinky do cérebro?” “Haha, não, não, um dia eu te mostro.” “Escuta aqui a letra dessa música, que coisa poética.” “Poesia!? Bob Dylan teve uma crise epiléptica por transmissão de pósitrons agora! No dia que isso for poesia, meu caderno de caligrafia da 1ª série vai bater o Aurélio como exemplo de gramática da língua portuguesa!”

“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar era fácil.”

E o tempo passou. E o tempo destrói tudo. Bastava querer, não é mesmo? A + B = C.

“Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.”

Tentaram adaptar-se, tudo em vão. Desacertos. Desentendimentos. Sorrisos estáticos enquanto os olhos estavam úmidos. É fácil trocar as palavras, difícil é interpretar os silêncios! - F. Pessoa bem dizia.

E tudo tornou-se cobrança. Uma desatenção era motivo de rancor. O eterno pisar em ovos. Se ela falasse, perderia-o? Mas, por não falar, ela se perderia e, por ela se perder, ela o perderia, também.

“Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.
Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.”
Clarice Lispector - Por não estarem distraídos.


E o fim, já previsto. E a mágoa, já esperada.
E agora?

"eu preciso andar
um caminho só
vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou."