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sábado, julho 18, 2009

Prenez soin de vous

Mes chéries amies,

aos leitores que moram em Sampa, por favor visitem por mim a exposição da artista plástica Sophie Calle,"Prenez soin de vous"(tradução : cuide-se.), em que a artista, no maior estilo "fazer do limão uma limonada", planejou toda uma exposição a partir de um e-mail que um ex-namorado mandara para ela e cuja última frase era "cuide-se".
Para os interessados no conteúdo da carta, ei-la em francês.

Arrasada com a forma fria como o ex-namorado terminara com ela, Sophie repassou o e-mail para mais de 100 pessoas, entre elas criminalistas, amigas, atrizes, dramaturgos, palhaços, psiquiatras, filósofas, uma criança de 9 anos de idade, uma professora de gramática..

Enfim, qualquer pessoa que pudesse lhe explicar verbalmente o que só se possui percepção emocionalmente. Parabéns àqueles que conseguem definir em palavras o real o sentido da palavra 'sofrimento', n'est pas?

Nessa amostra, há vídeos dos leitores das cartas comentando seu contéudo, além de fotos ilustrando a reação das pessoas ao lê-la.

Isso me lembrou de um texto bem interessante que eu li no Victor, que dizia o seguinte:



A capacidade de esquecer é o que existe de mais precioso sobre a face da terra, sob as nossas faces. Amar é indubitavelmente mais magnânimo, mas não é tão essencial quanto o esquecimento: é ele que nos mantém vivos. O amor torna a paisagem mais bonita, mas é o bálsamo curativo do esquecimento que nos faz ter vontade de abrir os olhos para vê-la. A paixão empresta um sentido quase mítico aos dias, mas é esquecer da excruciante tristeza perante a morte dela que nos torna aptos para nos encantarmos novamente dali a pouco.

Já esqueci amores inesquecíveis e sobrevivi a paixões que, tinha convicção, me aniquilariam se terminassem. Às vezes cruzo na rua com fantasmas que já foram muito vivos na minha história e não deixo de sentir uma certa melancolia por perceber que aquele rosto um dia pleno de significado se tornou tão relevante quanto um outdoor de pasta de dente. Algumas pessoas são apagadas da memória como filmes desimportantes. Sem maldade o intenção; apenas esmaecem até desaparecer. Mas é mesmo impossível nos lembrar de todos os que passaram por nós: gente demais, espaço de menos. Da mesma forma que minha história está repleta de coadjuvantes e figurantes que, irrefletidamente, se auto-proclamavam protagonistas, eu devo ser a personagem cômica da história de alguém. Ninguém se esquiva da experiência constrangedora de bancar o bobo da corte no reino de outro.

Mas esse oco de significado não vem sem um certo pesar. É ruim notar que já não dizemos praticamente nada para quem importou tanto. Na verdade é dolorido ser olvidado: não é fácil encarar que não somos insubstituíveis e que nossa saída displicente abre uma possibilidade de entrada tão desejada por outros. Mas só nos desenroscamos e seguimos nosso rumo natural, em frente, quando eliminamos alguns seres que, caso contrário, nos prenderiam aos emaranhantes aguapés de recordações.

"Há pessoas que ficam doendo com a lembrança de outra pessoa, entra ano, sai ano, virando e revirando o caleidoscópio, olhando como caem e de dispõe as cores e os cristais do sofrimento" (Paulo Mendes Campos).

O passado deve ser mantido no lugar dele e não trazido nas costas feito mochila de viajante, lotado com os erros cometidos e alegrias jamais revividas. Para ser feliz é necessário pouca coisa além se livrar do excesso de carga e esquecer as coisas certas. É útil também jamais perder de vista um detalhe, afixá-lo no espelho do banheiro, repetir como um mantra: absolutamente nada é pra sempre, nem sentimentos que parecem ser. Nunca mais haverá amor como aquele? Ótimo, porque o novo é tão imenso que seria um desperdício se algo se repetisse.

Todo mundo passa. E é bom que seja assim.


Bem, nós temos de aprender a rir, caso contrário, vamos nos matar de chorar.



::::Cuidem-se.::::

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