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segunda-feira, março 22, 2004

Um leitor me pediu que republicasse esse texto, então..
lá vai !

Bosta você

Quem nunca namorou alguém e depois se arrependeu profundamente de ter cometido tal atentado emocional ? Seguindo tradições, não fui exceção à regra. Pouco depois do primeiro beijo(já contei essa para vocês,não contei?), caí numa terrível crise existencial. Questionava-me se não fora vítima da ditadura da beleza(em que todo mundo tem de ser bonito e perfeito como em "Friends")e se não estava deixando passar pessoas incríveis só pelo fato delas não serem tão bonitas assim.
Essa dúvida ocorreu porque um amigo se declarara na véspera e eu dissera que não o queria porque ele não era lorinho dos zóio azur. Tá tá, não foi bem dessa forma. (mas foi o que eu pensei em dizer..). Arrependi-me e resolvi dar-lhe uma chance.
Nosso primeiro beijo foi o acontecimento mais broxante da minha vida. Ele podia até ser um rapaz ético, mas beijava mal pra caramba. (pessoas inexperientes, aprendam : beijo de lingua não é só colocar a lingua pra frente e pra trás,porra.)
A situação tornou-se insuportável logo no início. Se eu soubesse que ele estaria à direita(estudávamos no mesmo colégio), fazia questão de ir para a esquerda. O ápice foi quando passei um recreio inteiro em cima de uma árvore porque ele insistia em continuar me procurando no ginásio(até hoje amigos pouco compreensivos fazem questão de relembrar desse fato).
Percebendo tanto desafeto, ele deu para me enviar cartas de amor. Sintam só o conteúdo da primeira : uma letra de pagode intitulada "conto de fadas". Pagode, leitores. Eu, com quatorze anos de idade, no auge do estado grunge-punk e recebendo letra de pagode. Terminei o maledeto namoro no Irc, porque sabia que se o fizesse pessoalmente aquela lepra cancerígena me concederia um espetáculo teatral melodramático.
No dia seguinte ao término relacionamental(e eu beijei aquilo!PUÁ!), ele deixou um bilhete com o porteiro. Quando conferi o conteúdo, era a seguinte letra de música : "Então vem, então vem, maltrata de vez, maltrata de vez, estou com saudade, e a sua maldade me faz delirar, te perder, te perder, eu não vou resistir, eu não vou resistir, eu vivo sofrendo, estou de querendo, nasSi(analfabeto!) pra você, CIGANA."
Costumo afirmar que me enfureço pouco e bem. Essa foi uma das vezes em que senti a veia temporal superior(a que fica ao lado da testa)pulsando. No meio do jardim do condomínio,ao som das risadas do porteiro fofoqueiro, rasguei o diabo da carta e depois a pisoteei incessantemente.
Findado o acesso de fúria, pedi a uma amiga em comum que o informasse de que não tinha mais jeito. (Nunca teve, na verdade.)
No último dia de aula, MAIS UMA VEZ a ameba-assada veio até mim e me pediu que lesse MAIS OUTRA carta. Logo na primeira linha, li a seguinte nota: Boo, BOSTA VOCÊ.
Foi o cúmulo. Nunca fui afeita à violência, mas se tivesse força e ele não medisse 1,80m teria enchido a cara do miserável de porrada. Devido às limitações do momento,contentei-me em amassar a carta e acertá-la bem no meio do nariz dele, logo após de xingá-lo dos piores nomes imagináveis.
Pouco depois, uma amiga me disse que a letra dele estava borrada(aquilo me parecia mais um hieroglifo egípcio) e, se eu tivesse terminado de ler o que dizia o bilhete, teria lido "Boo, basta você na vida para me fazer feliz.".
Foda-se.
Bosta ele.
E não namoro meninos feios desde então.(traumatizou)

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