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sexta-feira, julho 23, 2004

Masoquismo Romântico
 
Eu quero sofrer uma desilusão amorosa. Quero mesmo, de verdade. Assim eu não me sentiria mais tão insensível –  me sentiria viva, sentiria meu sangue escorrer dramaticamente pela faca atravessada em meu peito, através do coração partido, pela ferida que alguém causou em mim. Tudo seria mais intenso, tristemente intenso, claro. Mas bem melhor do que as cores pastéis que eu enxergo agora. Nada de rosa bebê, azul céu, bege clarinho. Eu quero o preto, quero o cinza, quero o azul-quase-cinza-preto que o céu de dia tem quando está prestes a desabar.
Eu quero sofrer. Quero ter motivos para me trancar no quarto e colocar o cd mais pra baixo que eu tenho, aquele que me deixa com uma vontade de chorar insuportável, mesmo que eu já esteja chorando e para isso nem tenha precisado escutar o maldito álbum. Quero ouvir as músicas que me acompanham desde sempre, desde que eu percebi que queria ter alguém ao meu lado e que não poderia.
Quero não ser correspondida, que me larguem por outra, que me deixem sozinha esperando, que digam que eu não sou boa o bastante – ou que sou boa demais. Quero ter alguém para xingar, para pensar cobras e lagartos, para dizer que só me faz mal... mesmo não sendo bem assim.
Quero ter vontade de passar a noite bebendo, virando doses de tequila e garrafas de cerveja, deselegantemente servidas em copos de plástico, só para aplacar a dor que eu mesma procurei, que eu mesma provoquei, querendo me apaixonar.
Eu quero tudo de ruim que o amor e a paixão trazem. Eu quero a frustração, eu quero a rotina, o desânimo, a traição, o descaso, a raiva, a dor. Eu quero a submissão cega, o controle desenfreado, a desconsideração dos interesses, a anulação do ser.
Eu quero alguém por quem sentir tudo isso. Alguém que mereça minha vontade de sofrer. Alguém que valha o esforço e a disposição que todo mundo tem ao masoquismo romântico. Porque eu sou assim: uma masoquista romântica.

 

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