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domingo, março 23, 2003

Falando em coisas sem sentido, sabiam que quando induzimos um objeto estranho em nosso corpo a tendência é o organismo tentar expulsá-lo ? Meu piercing jajá pula fora do meu bigo. E isso é uma merda, porque eu não me submeto à operação de bota-piercing novamente nem dopada. Ah não. De jeito nenhum...
Com vocês, historinhas.
Houve um tempo em que piercing era coisa de revoltado. E foi justamente nessa época que eu cogitei a hipótese de colocar esse negócio. A R.Devassa (uma grande amiga, tão amiga quanto devassa)sempre dizia que iria colocar também, mas não passava disso. É aquele tipo de coisa "ah eu queria isso" e eu "é, eu tambem" e depois "pois é,mudando de assunto.."
Um belo dia,já fazem uns três anos, ela me liga.
- Alô.
- Desce.
- ...? Hun ?
- Bora passear.
Quando entro no carro, eis a bomba :
- Vamo colocar o piercing !
- Hein ?!
- É, minha prima (apontou pra uma coisa estranha que estava dirigindo) sabe um lugar que colocam e não pedem carteira de identidade !(éramos menores de idade na época)
- Veja bem, isso é uma coisa a ser pensada.. Nem dinheiro eu tenho aqui..
- Tem problema não, depois você me paga.
- Mas é que eu to morrendo de vontade de fazer xixi..
- Não vai morrer por causa disso. Lá você vai no banheiro.
- Mas é que eu detesto injeção..
- Boo, você disse que faria comigo e eu já arrumei tudo. Vai vacilar ?
- MMMmmmMMMMmmm...
A prima estranha nos levou até o centro da cidade. Paramos num muquifozinho muito suspeito.
- É aqui.
- Aqui !?!?! (eu tive vontade de abrir a porta do carro e sair correndo)
- É, onde mais você acha que fariam sem autorização dos pais ?
- MMmmmmMMMmmm... (pensamento : eita como eu to fudida)
Ao entrarmos, apareceu um cidadão carioca tatuado do pé até o pescoço, cheio de brinco em tudo que é cavidade e sem uma perna.
- Oi, sou eu quem vai colocar o piercing.
- Qual seu nome ?
- A galera me chama de Animal.
Eu cheguei pertinho da saída e pensei :
- Se eu sair correndo será que conseguirei voltar pra casa ?
Daí a R.Devassa falou pro Animal :
- Ei ela(aponta pra mim)queria ir ao banheiro, onde tem um ?
- Ih cara, eu não recomendo ninguém ir no banheiro daqui não ó.. Tem uma galera que fica lá fazendo um bocado de besteira..
- Eu também não queria ir mesmo, quem disse que eu queria ir ao banheiro ?- respondi quase por instinto.
- Boo, você que tá mais perto da porta(diacho, ela desconfiou dos meus planos)vai primeiro.
Entramos em outra sala, que graças a Deus era limpinha e tinha uma maca. O Animal lavou as mãos com sabonete bactericida, colocou luvas cirúrgicas(eu olhei bem se eram novas, e ainda bem que eram), pegou uma agulha do tamanho da minha mão (que estava lacrada na embalagem,definitivamente AIDS dessa eu não peguei)e disse :
- É rapidinho, relaxa.
- Tipo.. sai sangue ?
- Não, é no couro.
- E acontecem reações alérgicas ?
- Não, o brinco é de aço cirúrgico, olha aqui - e me mostrou o piercing também na embalagem, com MADE IN USA, tudo direitinho.
- Sei...
Daí começou o ritual. Limpa daqui, aperta dali, puxa acolá..
- Você vai sentir uma pinicada.
- Tipo.. Não tem perigo de perfurar nenhum órgão vital não,né ?
- É o quê menina ?
- Sei lá uma agulha desse tamanho..
- Minha filha, coisas maiores entram em espaços menores e nunca ninguém morreu disso..
Por incrível que pareça, na época eu não entendi.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!!!!! TIRA ! TIRA !!!!
- Agora não dá, eu já furei
Risinhos abafados no quarto. Lágrimas caiam dos meus olhos, aquela porra doía pra caralho.
- Acabou então ?
- Calma, ainda tem que colocar o piercing.
- Não precisa não, eu desisto.
- E vai ficar com o umbigo furado assim ? Agora isso é uma ferida aberta, tem que tapar com alguma coisa.
- Mas você não disse que não saía sangue, como é que é um ferida aberta? E aquela história das coisas maiores que não fazem mal ?
- Se você continuar me atrapalhando eu vou ficar nervoso.
Ocorreu-me questionar, nesse momento, o PORQUÊ do cara só ter uma perna e ter a alcunha de "Animal". Daí achei melhor ficar calada.
Saldo final : um umbigo furado, um mês sem poder mexer a barriga direito, mãe surtada ("Como é que você faz uma coisa dessas !?") e até a morte a frescação dos que estavam presentes.

Moral da história : Da próxima vez, sair correndo.


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